segunda-feira, 4 de junho de 2012

MAIS DE UM BILHÃO DE PESSOAS NÃO TÊM ELETRICIDADE EM SUAS CASAS

 

A repórter Sônia Bridi mostra como a corrida para manter a imensa máquina do planeta em funcionamento acabou ameaçando até os orangotangos na Indonésia.
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O consumo de energia no mundo dobra a cada 20 anos. No entanto, mais de um bilhão de pessoas ainda não têm eletricidade em suas casas. A repórter Sônia Bridi mostra como a corrida para manter a imensa máquina do planeta em funcionamento acabou ameaçando até os orangotangos na Indonésia. São os desafios de sustentar a grande família humana nesse mundo com lotação esgotada.

Desde que dominamos o fogo, tiramos energia da natureza. E a energia definiu nossa civilização.

Veja todos os episódios de Planeta Terra: Lotação Esgotada
Durante 10 mil anos, a população do planeta manteve-se estável por volta de 1 bilhão de pessoas. Mas, com a revolução industrial, houve um salto vertiginoso. Em apenas 200 anos, passamos para 7 bilhões. A energia e as máquinas tocadas por ela permitiram esse salto tecnológico. Controlamos doenças, comemos melhor e vivemos mais.

E cada vez mais, precisamos de energia. Mas para obtê-la estamos queimando combustíveis fósseis, que liberam gases de efeito estufa, aquecem o planeta, provocam as mudanças climáticas.

A maior parte da família humana vive em países em desenvolvimento que precisam de energia para enriquecer e melhorar de vida. Mas é possível fornecer essa energia sem botar em risco a civilização?

Represa de Hoover, perto de Las Vegas, nos Estados Unidos, uma maravilha da engenharia, que depois de 80 anos teve que reduzir a produção de energia. A represa está 40 metros mais baixa por causa das mudanças climáticas provocadas pela maneira como produzimos energia.

Com apenas 5% da população do planeta, os Estados Unidos consomem 23% de toda a energia e jogam um quarto dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Na frente deles, só a China, que obtém 85% da energia do carvão.

“Como outros países industrializados, a China deixava o ambiente em segundo plano. O crescimento era o que importava, mas agora eles lideram na economia verde”, explica o ambientalista Maurice Strong.

A 500 quilômetros de Pequim, o Vale Solar é o cartão de visitas desse esforço. Não faltam exemplos grandiosos, como o hotel completamente abastecido por energia solar. Uma região inteira, sempre encoberta por uma camada de poluição, dedicada a pesquisar e fabricar equipamentos solares.

O governo incentiva a produção e obriga cada nova construção a instalar os aquecedores solares para água. Tubos de vidro, mais eficientes do que os painéis. Assim, uma família chinesa consegue ter água quente em casa com um investimento equivalente a apenas R$ 200. E o impacto na produção de energia elétrica é imenso.

Até nos prédios, os tubos revestem a face voltada para o sol. Placas que geram eletricidade podem ser usadas em residências, prédios, ou em parques solares que jogam a energia na rede elétrica. A China já é o maior produtor do mundo.

A China consegue ser mais competitiva por causa da escala de produção. Fabricando painéis aos milhões, conseguiu fazer com que o preço caísse para apenas um terço do que era há apenas cinco anos. Mesmo assim, a energia solar ainda é a mais cara do que a produzida por termelétricas ou usinas hidrelétricas. Mas por quanto tempo?

O responsável pelo Vale Solar diz que o país investe em energia limpa porque não quer perder o que será o grande negócio do futuro.

O futuro vai depender de muitas soluções. Um chinês ainda usa em média apenas 20% da energia gasta por um americano. Mas tem as mesmas ambições: criar empregos, combater a pobreza, viver com conforto.

Dois de cada dez humanos não têm sequer uma lâmpada em casa. Para levar energia a todos, os investimentos precisariam ser multiplicados por cinco.

Kibera, em Nairóbi, no Quênia, é uma das maiores favelas do mundo: tem quase 1 milhão de pessoas sem água, sem esgoto, sem a mais básica das energias, fogo, para cozinhar.

Quem tem dinheiro, compra carvão vegetal. Um líder comunitário é o guia da equipe. Atravessando as vielas cheias de esgoto, cercadas de miséria e de gente acolhedora.

A equipe conhece um projeto revolucionário: um banheiro público. A maneira como eles vão ao banheiro nessa favela é chamada de banheiro voador. Porque eles vão ao banheiro em casa, em um saco plástico, amarram o saco plástico e jogam pela janela.

Agora, quando as pessoas vão ao banheiro, o esgoto é recolhido e vira energia. Um biodigestor transforma os dejetos em gás, canalizado para a cozinha comunitária.

Benta conta que antes do banheiro, por causa dos saquinhos, ela andava se esquivando pela rua. Ela mostra a filhinha, Beverly Hills. “Veja como ela está saudável. Eu estou saudável. Nunca mais tive cólera”, conta.

E tudo que eles precisavam para melhorar muito de vida, era um banheiro.

Bem longe dali, outra favela na beira dos trilhos. Jacarta, na Indonésia, é uma cidade com contrastes e paixões que lembram o Brasil. A Indonésia é um arquipélago formado por 17 mil ilhas e tem a quarta maior população do mundo, a maioria concentrada na ilha, onde fica a capital.

Por causa disso, o governo começou um projeto chamado de transmigração, a transferência da população para outras ilhas. As consequências dessa política estão sendo sentidas em todo o mundo.

No coração da floresta, na ilha de Bornéu, a equipe encontra uma vila. Como os outros moradores, Nurtija chegou ao local há seis meses. O marido e ela fazem a segunda transmigração, quando crianças foram com os pais para a ilha de Sumatra, onde agora já falta terra.

O dinheiro que o governo deu para a família recomeçar a vida na selva já acabou. E ela prepara banana frita para levar ao mercado. O marido sabe que logo vai precisar abrir mais floresta para poder sustentar os dois filhos.

No parque nacional, os biólogos replantam a floresta no solo que é único: uma grande camada de matéria orgânica em decomposição, que apodrece formando gases. Quando a floresta é intocada, uma camada de água impede que os gases sejam liberados.

Outra estratégia do parque nacional é construir barreiras que dificultam a passagem da água. Assim, uma área maior da floresta fica o tempo todo alagada. E a lâmina de água funciona como um escudo impedindo que o gás metano e o gás carbônico, que estão estocados no solo, sejam liberados e vão para a atmosfera.

Outro perigo avança: a plantação de palma de dendê. O óleo, no qual Nurtijah frita bananas, vai para a indústria de alimentos, mas também é biocombustível exportado para a Europa, onde é misturado ao diesel. O céu europeu fica mais limpo. O do planeta, não.

Este tipo de solo é bastante comum na Indonésia. Mas, se comparado com a superfície do planeta, ele ocupa apenas 0,01% de todo o território. Só que o desmatamento das áreas é responsável por 4% de todas as emissões de gases que provocam o efeito estufa no planeta. E a cada vez que uma nova área é desmatada, esse percentual aumenta.

O dendê está expulsando também os homens da floresta. É isso que significa orangotango, na língua local.

Um centro de recuperação de orangotangos tem 600 animais, e não pode receber outros. O biólogo responsável diz que metade foi capturada nas plantações de dendê. A outra, trazida por moradores dos assentamentos. Eles chegam desnutridos e doentes.

Tratados e vacinados, eles precisam reaprender a vida na selva. No hospitalzinho, três bebês que talvez nunca tenham essa chance. Duas meninas, tímidas. Um delas, a Jennifer, não larga seu bichinho de pelúcia. E o Irfan é um garoto brincalhão, que gosta de cosquinhas e de fazer uns carinhos estranhos, como dar cabeçadas.

Podem passar a vida toda sem ver a floresta. É que os bebês orangotango, quando nascem em cativeiro, geralmente são rejeitados pela mãe. E aí as chances de sobrevivência deles são muito menores. É por isso que existem hospitaizinhos em vários lugares da Indonésia.

Os que completaram o treinamento têm seu primeiro teste de sobrevivência. Em uma ilha do rio, os primeiros passos em liberdade.

É um ambiente de selva, mas eles ainda recebem comida uma vez por dia dos cientistas, que ficam sempre de olho. Mas assim eles vão aprendendo a se virar sozinhos.

Vemos como esses primatas fascinantes vão ganhando confiança. Um momento de sorte: a mãe com o primeiro bebê nascido na ilha está na beirinha, cuidando, amamentando a cria.

Um grupo de jovens explora a copa das árvores, mas conservam um hábito do cativeiro. Um pega um saco vazio e leva para o alto. Quando precisa das mãos, veste o saco para não derrubá-lo. Está na hora de dormir. O paninho vira cobertor.

Faz a gente pensar: salvar essas criaturas que compartilham 97% do nosso DNA e melhorar a vida de bilhões de pessoas. Essa tarefa vai definir que tipo de civilização seremos.


Fonte: g1.com.br/fantastico

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